quarta-feira, 20 de abril de 2011

Stanislav Grof, M.D




Stanislav Grof, MD, Ph.D. é um psiquiatra com mais de cinquenta anos de experiência pesquisando a cura e o potencial transformador dos estados não-ordinários de consciência. Suas teorias inovadoras influenciaram a integração da ciência ocidental, com sua brilhante mapeamento da dimensão transpessoal.

Esta entrevista foi concedida por Stanislav Grof, M.D., a Álvaro Veiga Jardim e Carmen Maciel, durante visita a Goiânia, GO, Brasil, no período entre 24 a 28 de Setembro de 2000.

Partilho uma das perguntas feitas.

“O que a Psicologia Transpessoal e o seu trabalho trouxeram para a psicologia como ciência?

O famoso psicólogo americano Abraham Maslow chamou a Psicologia Transpessoal de a Quarta Força em psicologia, que se seguiu ao Comportamentalismo, à Psicanálise Freudiana e à Psicologia Humanista. Na primeira metade do século, a psicologia americana e europeia e a psiquiatria foram dominadas, exclusivamente, pelo comportamentalismo e pela psicanálise. A Psicologia Humanista, fundada por Abraham Maslow e Anthony Sutich, surgiu como uma reacção às inadequações e limitações destas duas primeiras forças.
A Psicologia Humanista corrigiu a tendência do comportamentalismo, em ignorar a consciência e a introspecção e formular teorias sobre a psique humana, exclusivamente, através de observações do comportamento, particularmente, em relação ao comportamento dos animais, tais como ratos e pombos. A Psicologia Humanista, também, enfatizou a necessidade de ir além da tendência da análise Freudiana, de manipular todos os dados do estudo da psicopatologia e incluiu indivíduos normais e supernormais como assuntos de pesquisa.
O foco do estudo humanístico foram os valores humanos mais elevados e a tendência em perseguir os “metavalores” de Maslow e “metamotivações”, lidando com o que Maslow chamou “auto-atualização” e “autorealização”. A Psicologia Humanista também sustentou uma ampla abertura, para o desenvolvimento de uma nova forma revolucionária de psicoterapias, chamadas “terapias experienciais”, tais como a prática da Gestalt, bioenergética ou técnica de Alexander.
A Psicologia Transpessoal então, adicionou, ainda, uma outra dimensão importante, que é o reconhecimento da espiritualidade, como um aspecto importante e legítimo da psique humana. Esta é uma diferença radical da psicologia académica, que destitui a espiritualidade de alguma forma e de algum nível de sofisticação e a caracteriza como superstição, pensamento mágico primitivo, imaturidade emocional ou patologia. Um outro importante aspecto da Psicologia Transpessoal é que ela estuda o espectro inteiro da experiência humana, incluindo os estados incomuns de consciência, particularmente, várias formas de experiências místicas.
A Psicologia Transpessoal foi profundamente influenciada pelas experiências e observações dos estudos de estados incomuns de consciência, tais como aqueles que ocorrem durante práticas xamânicas, ritos aborígenes de passagem, os mistérios antigos de morte e renascimento, sessões psicodélicas e várias formas de práticas espirituais (incluindo diferentes escolas de yoga, Budismo, Taoísmo, Sufismo, misticismo Cristão, etc.). E aí é onde entra meu próprio trabalho.
Minha contribuição para a Psicologia Transpessoal, além de dar o nome “transpessoal”, vem de quatro décadas de exploração sistemática do potencial terapêutico, transformativo e evolucionário dos estados incomuns de consciência. Fiquei, aproximadamente, a metade deste tempo, conduzindo terapia com substâncias psicodélicas, primeiro na Tchecoeslováquia, no Instituto de Pesquisa Psiquiátrica, em Praga, e depois nos Estados Unidos, no Maryland Psychiatric Research Center, em Baltimore, onde participei do último programa sobrevivente de pesquisa psicodélica americano.
Desde 1975, trabalho com respiração holotrópica, um poderoso método de terapia e auto-exploração, que desenvolvi, juntamente com minha esposa Christina. Através dos anos, também apoiei muitas pessoas, passando por crises psico-espirituais ou “emergências espirituais”, como Christina e eu as chamava. O denominador comum destas três situações é que elas envolviam estados incomuns de consciência ou, mais especificamente, uma importante subcategoria delas, que denominei holotrópico. Em terapia psicodélica, estes estados são induzidos pela administração de substâncias ou plantas, que alteram a mente. No trabalho com a respiração holotrópica, a consciência é mudada pela combinação de respiração mais rápida e profunda, música evocativa e liberação de energia, através de trabalho corporal. Em emergências espirituais, os estados holotrópicos ocorrem espontaneamente, no quotidiano e sua causa é usualmente desconhecida.
Somando-se a outras actividades, também, tenho me envolvido, de modo mais periférico, com muitas disciplinas que são, mais ou menos, directamente relacionadas aos estados incomuns de consciência. Tenho participado de cerimónias sagradas de culturas nativas em diferentes partes do mundo, tenho tido contacto com xamãs norte-americanos, mexicanos e sul-americanos e troquei informações com muitos antropólogos. Também tenho tido intenso contacto com representantes de várias disciplinas espirituais, incluindo o Budismo Vipassana, Zen, Vajrayana, Siddha Yoga, Tantra e a Ordem Cristã Beneditina.
Uma outra área, que tenho dedicado bastante atenção, tem sido a tanatologia, uma jovem disciplina que estuda experiências próximas da morte e aspectos psicológicos e espirituais da morte e do morrer. Eu participei, no final dos anos 60 e no início dos anos 70, de um amplo projecto de pesquisa, estudando os efeitos da terapia psicodélica, em indivíduos terminais com câncer. Eu poderia também acrescentar, que tenho tido o privilégio de conhecer pessoalmente e de ter tido experiências com alguns dos grandes físicos e parapsicólogos de nossa era, pioneiros de pesquisa da consciência em laboratório e terapeutas, que desenvolveram e praticaram formas poderosas de terapias experienciais, que induzem estados incomuns de consciência.
Após todos esses anos de estudo de várias formas de estados incomuns de consciência, eu concluo que as experiências e observações desse trabalho mostram uma urgente necessidade de uma revisão profunda do nosso pensamento em psiquiatria, psicologia e psicoterapia. A profundidade e alcance desta revisão poderia ser comparada com o que aconteceu na física, nas primeiras três décadas do século XX – a mudança da física Newtoniana para a teoria da relatividade e então para a física quântica. Eu escrevi sobre estas implicações em meu último livro, “Psicologia do Futuro: Lições de Pesquisa da Consciência Moderna”.”


Referências bibliográficas:

http://www.stanislavgrof.com/

http://expansaodeconsciencia.wordpress.com/2008/05/03/entrevista-com-stanislav-grof-parte-1/


postado por Catarina Sofia Pereira

Sem comentários:

Enviar um comentário