quarta-feira, 6 de abril de 2011

ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO E ESPIRITUAL DUMA PESSOA EM FIM DE VIDA

O presente texto foi extrapolado de apontamentos cedidos na formação da Amara “Vida e Morte: A mesma Preparação” realizada em Fevereiro de 2011 pela formadora Carol Gouveia e Melo

Ouvimos frequentemente dizer em cuidados paliativos, que, contrariamente àquilo que costumam dizer, quando alguém chega ao fim da sua doença “Já não há nada a fazer”, há sempre “muito a fazer”. Este “muito a fazer” tem a ver com melhorar a qualidade da vida que resta. Sem querer contradizer esta frase, gostaria de frisar que no tempo da agonia, no que diz respeito à parte psicológica e espiritual, muito mais importante do que “fazer”, é saber “estar”. E às vezes, é “estar”, e mantermo-nos próximos sem fazer nada.
Para isso, devemos ter consciente dentro de nós a diferença entre compaixão e pena. Quando temos pena de alguém, a emoção que está por baixo, é medo. O sofrimento do outro incomoda-nos, e consequentemente queremos eliminar o sofrimento do outro, não só para o bem do outro, mas também para o nosso bem-estar. Estamos muito mais centrados no nosso mal-estar perante o sofrimento do outro, do que propriamente centrados na outra pessoa. Este mal-estar impede-nos de verdadeiramente “estar” com o outro, porque nos empurra para “fazer” qualquer coisa para tirar o sofrimento. Este constante “fazer” pode ser bem cansativo para o doente, porque nem tudo aquilo que queremos “fazer” melhora o seu bem-estar. (É claro, não estou a falar aqui, de cuidados médicos e de enfermagem de cuidados paliativos). Quando, pelo contrário, conseguimos estar na presença do outro, com os braços abertos para acolher o seu sofrimento dentro de nós, então podemos dizer que estamos com uma atitude de compaixão – “estar com”. O sentimento por baixo da compaixão é o amor. O contrário do amor não é o ódio, mas é o medo. O verdadeiro amor elimina o medo.
De facto, perante alguém em fase de agonia, não podemos FAZER grande coisa para impedir a sua morte. Quando admitimos a nossa impotência, e aceitamos senti-la na pele, então estamos realmente livres para entrar numa relação mesmo próxima com a pessoa que sofre. A impotência partilhada pode tornar-se um momento de graça entre duas pessoas autênticas, que não têm resposta perante o sofrimento e a morte. A aceitação dessa impotência, por estranho que possa parecer, torna as pessoas mais fortes, porque não estamos a fugir da realidade.
No entanto, não podendo fazer grande coisa, podemos com certeza oferecer a nossa presença profunda e a nossa atenção: uma presença de qualidade. Se tomarmos consciência que a pessoa é bem mais do que o seu corpo, o nosso toque também ganha outra consciência.
Carol Gouveia e Melo
Publicado por: Cátia Simões

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