quarta-feira, 15 de junho de 2011

Pôr-se no lugar do outro: «também eu, se fosse tu…»

Etimologicamente o conceito de “empatia” deriva do radical latino “in” ou “im” (em) e do grupo lexical grego “pathein” (sentir)[1], o que significa “sentir em” ou “sentir a partir de dentro do outro”, sentir segundo o seu ponto de vista[2]. Neste sentido C. Boulanger e C. Lançon, defendem que empatia significa «a capacidade de se colocar no lugar de uma outra pessoa para compreender os seus sentimentos ou representar na sua mente as representações do outro. É a capacidade de se identificar ao outro e de adoptar a sua perspectiva subjectiva»[3]. Ou, segundo o Glossary of Psychoanalytic Terms and Concepts, «é uma forma de perceber o estado psicológico e as experiências de outra pessoa»[4].
Kohut, autor incontornável neste assunto, associa a capacidade de empatia à introspecção, considerando a compreensão empática como um meio tão válido como os órgãos dos sentidos para aceder ao mundo interno, às emoções, sentimentos, desejos e pensamentos do outro[5].
Para Rogers, por fim, a empatia consiste em perceber com a maior exactidão possível as referências internas e os componentes emocionais do outro, em compreendê-los como se eu fosse essa pessoa e em comunicar-lhe depois essa compreensão. Neste sentido diz que a compreensão empática se cumpre «quando o terapeuta é sensível aos sentimentos e às reacções pessoais que o paciente experimenta a cada momento, quando pode aprendê-los “de dentro” tal como o paciente os vê, e quando consegue comunicar com êxito alguma coisa dessa compreensão ao paciente»[6]. E longe de ser uma panaceia, esta compreensão conduz à transformação do mundo interno da pessoa. Afirma Rogers: «quando o terapeuta é capaz de apreender momento a momento a experiência que ocorre no mundo interior do paciente, como este o sente e o vê, sem que a sua própria identidade se dissolva nesse processo de empatia, então pode dar-se a transformação»[7]. A empatia implica, por isso, «entrar no mundo pessoal do outro e sentir-se aí com o mesmo prazer como se estivesse em sua própria casa. Isso implica ser sensível, momento a momento, à transformação de significados experimentados que vão fluindo na outra pessoa…»[8].



[1] Cf. Dicionário Universal da Língua Portuguesa. Lisboa: Texto Editora, 2000.
[2] Cf. J. C. BERMEJO, Apuntes de relación de ayuda, 25.
[3] C. BOULANGER & C. LANÇON, “L’empathie: réflexions sur um concept”, 498.
[4] Citado por J. CODERCH, La relación paciente-terapeuta, 168.
[5] Citado por J. CODERCH, La relación paciente-terapeuta, 169
[6] C. ROGERS, Tornar-se pessoa, 64.
[7] Ibidem, 65.
[8] C. ROGERS, “Empathic: an unappreciated way of being”. In The Counseling Psychology 5, 2 (1975), 2-10.


Retirado do artigo "Relação Pastoral de Ajuda", de Fernando Sampaio

Postado por: Cátia Simões

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