quinta-feira, 23 de junho de 2011

O SOFRIMENTO E A MORTE


Se bem se lembram no dia 8 de Junho, coloquei um excerto de uma Monografia apresentada como item de avaliação do curso de Psicologia Transpessoal, pela ALUBRAT – CESBLU, sob orientação da Profª M.S. Célia Maria Lameiro Rodrigues. Cujo título é: Vivências Emocionais de Equipes de Saúde Trabalhando em UTI Pediátrica: um Olhar Transpessoal Sobre o Sofrimento e o Morrer” - por Luciana Marin Jardim Lange e Rosângela A. Lucindo Pedroso Fiorelli. Todos nós sabemos que estamos a morrer embora não o admitamos. Morte tem uma conotação negativa e é considerado como desconhecido. Espero que mais uma vez, este excerto possa ser útil para aceitarmos que estamos a morrer e assim aproveitar todos os amanheceres que a vida nos dá enquanto durar esta viagem.
                                                                                                
“Tradicionalmente a morte designa o fim absoluto do que é tido como positivo.
Sob o enfoque psicológico, constitui uma das duas etapas básicas do processo de evolução da vida, em conjunto com o renascimento. Nesta perspectiva o processo de evolução do ser humano desenvolve-se através de sucessivas mortes e renascimentos, ciclo este que se inicia com a própria morte da vida intra-uterina.
No sentido esotérico representa o acesso a uma nova vida e a mudança profunda pela qual passa todo aquele que se encontra sob o efeito da iniciação. Enquanto símbolo, corresponde ao aspecto perecível e destrutível da existência bem como à evolução e à introdução. Ao desmaterializar forças tidas como negativas e regressivas liberta as de ascensão do próprio espírito. Tal perspectiva, no entanto, não impede que o mistério da morte gere angústia diante do desconhecido e da possibilidade de mudanças para uma forma de existência inexplorada.
Morremos inúmeras vezes e cada uma dessas mortes representa uma etapa na transição e aperfeiçoamento de valores e atitudes necessários a esse processo evolutivo.
“A morte nos lembra que é preciso ir ainda mais longe e que ela é a própria condição para o progresso e para a vida” (Chevalier, 1989, p. 623).
Numa perspectiva histórica e sociocultural, a dor e a morte, no âmbito das terapias da saúde, têm sido restringidas a um problema técnico. O sofrimento perde seu significado íntimo e pessoal e as pessoas perdem a capacidade de enfrentamento da dor, que é despojada de sua dimensão existencial subjectiva. “Vivemos em uma sociedade em que o sofrer não tem sentido e, por isso, tornamo-nos incapazes de encontrar algum sentido em uma vida marcada pelo sofrimento” (Léo Pessini, in Angerami-Camon, 2004, p. 65).
“A dor pode ser definida como uma perturbação, uma sensação no corpo. O sofrimento, por outro lado, é um conceito mais abrangente e complexo, atinge toda a pessoa. Pode ser definido, no caso de doença, como um sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controlo e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. Em cada caso, só nós podemos senti-lo, bem como aliviá-lo. A dor exige medicamento e analgésico; o sofrimento clama por sentido” (Léo Pessini, in Angerami-Camon, 2004, p. 66).
Weil (1995) considera que “(...) não pode haver morte absoluta, (…) toda morte é uma transformação de energia que forma diferentes sistemas percebidos como perecíveis (…), morrer consiste em uma mudança do estado de consciência de vigília para um estado de consciência de sonho, de sono profundo ou de consciência cósmica, segundo o grau de desapego e descondicionamento alcançado na última existência” (p. 205-207).
Sob o enfoque Transpessoal a morte corresponde “(...) a transição, (...) a passagem de uma forma para tomar outra forma, acrescendo elementos de maior alcance na escala universal e mantendo a essência indivisível do elemento anterior que consiste na vida em si própria” (Saldanha, 2007, p. 12).
Tudo é vida, num “continuum” no qual nascer, morrer e renascer integra um único processo de transformação. A vida individual encontra-se integrada à vida cósmica com a qual forma um todo indivisível e a evolução e o conhecimento adquirido durante a existência prevalece após a morte física.
Indo para além da dualidade espaço interior/espaço exterior podemos vivenciar esse “continuum” psicobiofísico e cósmico de nossa existência e perceber que o ego não possui existência independente. A ideia de um eu separado é ilusória, destituída de realidade.
Nesta perspectiva Francisco Varela (in Capra. 1996) conclui que “nosso impulso para nos agarrarmos a uma terra interior é a essência do ego-eu e é a fonte de contínua frustração (...). Esse agarrar-se a uma terra interior é, ele mesmo, um momento num padrão maior do agarrar que inclui nosso apego a uma terra exterior na forma de um mundo pré-dado e independente. Em outras palavras, nosso agarrar-se a uma terra, seja ela interior ou exterior, é a fonte profunda de frustração e ansiedade” (p. 230). Desse condicionamento egocêntrico, desta possessividade emergem os medos da perda, do fracasso, do não reencontro e outras emoções e sentimentos de frustração como a raiva, o ódio, o ciúme, a tristeza, a depressão.
A ilusão da separatividade e consequentemente o sofrimento gerado promovem as doenças físicas e mentais. Ao alargarmos o nosso campo de percepção e atingirmos estados ampliados da consciência, ou seja, ao vivenciarmos experiências em consciência cósmica, a tridimensionalidade do tempo desaparece e nos percebemos eternos e unos com o cosmo e, mesmo diante da transitoriedade da existência física, o medo da morte pode deixar de existir. O tempo não se divide em passado, presente e futuro as sequências de acção ocorrem num eterno aqui e agora.
“O princípio de conservação ou de sobrevida é apenas uma outra forma de procura da felicidade; mais existência significa mais felicidade, para todos os que ignoram o que se passa depois da morte, por não terem vivido na consciência cósmica” (Weil. 1995, p.62).”

Referência Bibliográfica


Postado por Catarina Sofia Pereira

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