quarta-feira, 8 de junho de 2011

ESPIRITUALIDADE E TRANSCENDÊNCIA


Hoje vou partilhar com vocês um capítulo de uma Monografia apresentada como item de avaliação do curso de Psicologia Transpessoal, pela ALUBRAT – CESBLU, sob orientação da Profª M.S. Célia Maria Lameiro Rodrigues. Cujo título é: Vivências Emocionais de Equipes de Saúde Trabalhando em UTI Pediátrica: um Olhar Transpessoal Sobre o Sofrimento e o Morrer” - por Luciana Marin Jardim Lange e Rosângela A. Lucindo Pedroso Fiorelli. Apesar de ser um trabalho no âmbito de pediatria o sofrimento e o morrer estão presentes em todas as etapas da vida humana. Cada vez mais da Espiritualidade e a Transcendência estão ligados, na minha opinião, claro. Todos nós somos seres espirituais e transcendentes. Embora, alguns de nós só se aperceba dessa ligação quando está a num processo de sofrimento. Espero que seja útil, este excerto da monografia

“Estudos actuais demonstram a importância da interface entre espiritualidade e Psicologia e consideram a espiritualidade como parte essencial da personalidade e da saúde, parte de toda a dimensão pessoal da experiência, do equilíbrio e da harmonia do ser humano.
Mongano et al. (2008) destacam que a Organização Mundial da Saúde, incluiu em seu instrumento de qualidade de vida o domínio religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais, evidencia estudos e metanálises que associam envolvimento religioso e espiritualidade com saúde física, mental, melhores índices de saúde, maior longevidade, habilidades de manejo e qualidade de vida.
A diversidade de conceitos acerca da espiritualidade, no entanto, apresenta uma dificuldade a ser ultrapassada para que a espiritualidade, enquanto busca pessoal de respostas sobre o significado da vida e do relacionamento com o sagrado e/ou transcendente, possa efectivamente ser optimizada.
A Psicologia Transpessoal, considera a espiritualidade como processo fundamental para a vida humana, ultrapassando as dificuldades encontradas pela Psicologia mais tradicional que coloca a espiritualidade fora da sua esfera de investigação e conhecimento. Tal ultrapassagem amplia a possibilidade do resgate da proposta inicial da Psicologia - estudar e compreender o espírito.
Na abordagem transpessoal espiritualidade e religião se diferenciam. A religião é considerada enquanto prática institucionalizada, dogmática e pública, enquanto que “(...) a espiritualidade não se atém a dogmas; integra o organismo ao meio; o racional, o emocional e o social com a clareza de que não estão separados, gerando altruísmo, cuidado ético consigo e com o outro como decorrência natural” (Marques, 2000). A Psicologia Transpessoal considera tanto os aspectos da personalidade, como os da individualidade, os quais abrangem a espiritualidade e referem-se a todos os estados de expansão da consciência e actividades humanas que têm em comuns valores éticos, superiores, estéticos e altruístas (Assagioli, 1993).
Ao abordar a espiritualidade promove benefícios significativos no tratamento da desesperança e do desespero, potencializando capacidades e desenvolvendo modelos colaborativos e relacionais, fundamentados na mobilização da esperança, das inteligências intrínsecas e do optimismo. A espiritualidade, na perspectiva transpessoal, reporta o cuidar na área de saúde, à sua dimensão holística, que compreende, dentre outros, ao amor, a caridade, as sensibilidades do feminino e a estética. Possibilita ainda o trabalho com a subjectividade favorecendo a ampliação da compreensão dos eventos como o sofrimento e a morte e o desenvolvimento de estados emocionais mais favoráveis para superação das dificuldades e do sofrimento no âmbito psicológico, condição essencial durante o processo de internação hospitalar. “Deus que fora banido da prática clínica já havia algum tempo, passa a ser valorizado. Isso, em grande parte, acontece devido ao aumento da crença dos médicos de que o que ocorre na mente da pessoa pode ser tão importante para a saúde como o que ocorre em nível celular. Fazem investimentos científicos para ‘descobrir a natureza de Deus’ e a importância da espiritualidade (…), buscam caminhos éticos e meios efectivos de como combinar as crenças espirituais de seus pacientes e as suas com tratamentos de alta tecnologia” ( Léo Pessini, in Angerami – Camon, 2004, p. 48).
Para Maslow (1994), a vida espiritual constitui-se no aspecto mais elevado de nossa existência, intrínseca à essência do ser humano, uma característica definidora de sua natureza, inerente ao verdadeiro eu. O princípio da transcendência, intimamente correlacionado com a espiritualidade “(...) indica um impulso em direcção do despertar espiritual por meio da própria humanidade do ser, da pulsão de vida, morte e para além delas” (Saldanha, 2008, p. 145).
A espiritualidade compreende a necessidade de transcendência quando encontramos um sentido evolutivo e um propósito significativo para a vida. Quando “(...) a pulsão de transcendência encontra espaço na expressão da psique (...), afloram as meta necessidades, (...) nas quais há valores positivos naturalmente éticos, como a solidariedade, beleza, êxtase e a própria espiritualidade presentes como aspectos inclusivos do desenvolvimento humano... correlaciona-se à expressão saudável do indivíduo, a qual abrange a síntese da razão, emoção, intuição, sensação e os valores do Ser (...)” (Saldanha, 2008, p.146-147).
A transcendência apresenta, portanto, uma potencialidade significativa para superação das dificuldades e eventos traumáticos. Possibilita amparo e autoconfiança para lidar com a dor psicológica e ultrapassar as adversidades vivenciadas no contexto hospitalar.
Enquanto possibilidade de recurso benéfico para se lidar com traumas psicológicos e situações em que as pessoas se vêem diante dos próprios limites e vulnerabilidades, reduz a perda do controle e o desamparo advindo de tais vivências.
Saldanha (2008) destaca que a Abordagem Integrativa Transpessoal, no que se refere ao desenvolvimento humano, considera o processo primário regido pelo princípio do prazer, correlato a pulsão de vida e morte; o processo secundário regido pelo princípio da realidade e referente à estruturação do ego, e o processo terciário, regido pelo princípio da transcendência, aspecto relevante na promoção da saúde individual e colectiva, passível de estimulação, desenvolvimento ou bloqueio.
O princípio da transcendência favorece movimentos em direcção à unidade, à saúde, valores e processos criativos superiores. Sua característica de síntese e diferencial significativo na abordagem transpessoal, integra todos os processos anteriores.
Permite a minimização do sofrimento e favorece o encontro de um significado e uma finalidade para as experiências. Influencia favoravelmente a qualidade de vida, possibilitando a diminuição da gravidade de sintomas correlacionados à ansiedade, depressão, insegurança, compulsão, fobia, paranóia e somatizações, que se manifestam com significativa frequência no ambiente hospitalar.
“Esta pulsão é uma força que, quando não é impedida, se expressa naturalmente, é saudável, benéfica para o indivíduo e seu ambiente, é esclarecedora, promove o autoconhecimento em sua concepção mais ampla. É a informação subjacente à semente, aquela que sabe que é a futura árvore e conhece o caminho para concretizar as condições que a favorecem” (Saldanha, 2008, p. 151).
“Na pulsão de transcendência há aspectos além de uma função; indica a força espiritual, uma direcção evolutiva inerente ao processo de desenvolvimento humano, que segue o seu curso, flui através do Ser no relacionamento interno e externo e para além deste, é algo superior, sagrado, que transcende o que costumamos considerar como nós mesmos, é um caminho além do ego” (Saldanha, 2008, p. 150).
A pulsão de transcendência oferece novas possibilidades e diferentes perspectivas no que se refere ao desenvolvimento do ser humano ao integrar aspectos supra conscientes e destacar-se como um diferencial apresentado explicitamente pela Abordagem Integrativa Transpessoal. Constitui-se, no entanto, enquanto força que necessita ser estimulada por não se encontrar ainda plenamente evoluída no actual estágio do desenvolvimento humano (Saldanha, 2008).”

Referência Bibliográfica


Postado por Catarina Sofia Pereira

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