segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Poder dos Mitos (Conclusão)

Por: Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Selecção, resumo e adaptação do Livro "O Poder do Mito" de Joseph Campbell, feito por Carlos Guimarães - Por que mitos? Por que nos importarmos com eles? O que eles têm a ver com nossas vidas?
Histórias ou contos de fadas são histórias com motivos mitológicos desenhadas especialmente para as crianças, que normalmente falam de uma menininha no limiar da passagem da infância para a descoberta da sexualidade. É por isso que o chapeuzinho vermelho veste uma capa vermelha. Algo nela exige, sem que ela queira, que faça o percurso pelo meio da floresta (nosso lar de origem, onde se escondem os nossos instintos), até chegar à casa da avó (a cultura tradicional que devemos respeitar). Chapeuzinho está em fase de transição. A capa vermelha lembra o sangue da menstruação. A jovem é algo muito atraente para o Lobo. Ainda hoje dizemos que um homem apaixonado e desejoso por uma mulher é um lobo. E ela não consegue evitar de conversar com o Lobo no meio do caminho. Na história original, o chapeuzinho transforma-se numa loba, ela sabe que a velha cultura repressora deve ser morta para que ela possa sentir o que deseja.
A história da Bela Adormecida é semelhante, ao completar dezasseis anos, a princesa parece hesitar diante da crise da passagem da infância à idade adulta e sente-se atraída em furar o dedo na roca que a fará adormecer. Enquanto dorme, o príncipe ultrapassa todas as barreiras que ela, sem querer, levantou contra a sua maturação e vem oferecer-lhe uma boa razão para aceitar crescer. O beijo mostra que crescer, ao final de contas, tem o seu lado agradável. Todas as histórias dos irmãos Grimm representam a menininha paralisada, com as matanças de dragões e travessias de limiares têm a ver com a ultrapassagem da paralisação, com a superação dos demónios internos.

Os rituais das "primitivas" cerimónias de iniciação têm sempre uma base mitológica e relacionam-se com a eliminação do ego infantil quando vem à tona o adulto, ou tem em vista mostrar os próprios medos e demónios internos. No primeiro caso, é sempre mais duro para o menino, já que para a menina a passagem dá-se naturalmente. Ela torna-se mulher quer queira ou não, mas o menino, primeiro, tem de se separar da própria mãe, encontrar energia em si mesmo, e depois seguir em frente. Na Odisseia, Telémaco vive com a mãe. Quando completa vinte anos, Atena vem ter com ele e diz-lhe: "Vá em busca de seu pai". Este é o tema em todas as histórias. Às vezes é um pai místico, mas às vezes, como na Odisseia, é o pai físico.
O tema fundamental nos mitos é e sempre será a procura espiritual. Vemos que nas vidas dos grandes Mestres espirituais da Humanidade sempre nascem lendas e mitos ligados a eles, figuras históricas reais. A história real de Jesus, por exemplo, parece representar uma proeza heróica universal. Primeiro, ele atinge o limite da consciência do seu tempo, quando vai ter com João Batista para ser baptizado. Depois, ultrapassa o limiar e isola-se no deserto, por quarenta dias. Na tradição judaica, o número 40 é mitologicamente significativo. Os filhos de Israel passaram quarenta anos no cativeiro, Jesus passou quarenta dias no deserto. No deserto, Jesus sofreu três tentações. Primeiro, a tentação económica, quando o Diabo diz: "Você parece faminto, meu jovem! Por que não transformar estas pedras em pão?" Depois vem a tentação política. Jesus é levado ao topo da montanha, de onde avista as nações do mundo, e o Diabo diz: "Tudo isto te darei, se me adorares", que vem a ser uma lição, ainda não compreendida hoje, sobre o quanto custa ser um político bem-sucedido. Jesus recusa. Finalmente o Diabo diz: "Pois bem, já que você é tão espiritual, vamos ao topo do templo de Herodes e atira-te de lá abaixo. Deus o acudirá e você não ficará sequer machucado". Isto é conhecido como enfatuação espiritual. Eu sou tão espiritual que estou acima das preocupações da carne e acima deste mundo. Mas Jesus é encarnado, não é? Então ele diz: "Você não tentará o senhor, teu Deus". Essas são as três tentações de Cristo, tão relevantes hoje quanto no ano 30 de nossa era.

Está no interior de cada um a capacidade de reconhecer os valores da vida, para além da preservação do corpo e das ocupações do dia-a-dia.

Os mitos estimulam a tomada de consciência da sua perfeição possível, a plenitude da sua força, a introdução da luz solar no mundo. Destruir monstros é destruir coisas sombrias. Os mitos apanham-no lá no seu íntimo. Quando Criança, nós encaramo-los duma forma. Mais tarde, os mitos dizem-nos mais e mais e muito mais. Quem quer que tenha trabalhado seriamente com ideias religiosas ou míticas sabe que, quando crianças, nós sentimo-las duma certa forma, mas depois outros níveis se revelam. Os mitos estão muito perto do inconsciente colectivo, e por isso são infinitos na sua revelação.
Postado por: Delfina Correia

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