domingo, 22 de maio de 2011

Hipnose

A hipnose tem sido usada como espectáculo em palcos, de uma forma por vezes leviana, que quando se pretende usá-la como instrumento médico ou psiquiátrico, surpreende muitas pessoas. Entre os aspectos positivos da hipnose até há pouco tempo camuflados, contam-se o facto de o estado hipnótico poder ser alcançado por cerca de 70% da população e de o mesmo implicar, primariamente, não a perda de autonomia, mas um aprofundar da consciência e, através da sugestão, um aumento de controle sobre as funções autónomas do organismo.

Além do mais, não é tanto a “perda da noção de tempo” e a amnésia consequente que fundamentalmente caracterizam a hipnose, mas períodos de intensa lucidez em que o indivíduo pode ser capaz de remontar a recordações longínquas para recolher informações que, de outro modo, seriam irrecuperáveis.

No entanto, tem se prestado uma atenção muito maior aos potenciais abusos recorrentes da prática da hipnose do que às aplicações positivas da mesma. De facto, este fenómeno pouco compreendido tem causado tal receio entre os membros da comunidade médica e o público em geral que o seu uso com fins de entretenimento tem sido severamente restringido. Até certo ponto, tais precauções são razoáveis, uma vez que o transe hipnótico, sendo uma capacidade latente na maioria dos homens, é um estado complexo que pode oferecer um acesso directo único ao subconsciente.

Embora o estado hipnótico e vários meios de o alcançar fossem conhecidos dos antigos egípcios e gregos, a história registada da hipnose é, na realidade, muito breve. Considera-se frequentemente que remonta, embora esta datação não seja rigorosa, às experiências realizadas em meados do século XVIII por Franz Anton Mesmer. No entanto, e apesar do extraordinário efeito que produzia nos seus doentes, Mesmer não os hipnotizava. O primeiro praticante de hipnose dos tempos modernos foi de facto um discípulo de Mesmer, o marquês de Puységur, que, na década de 1780, induziu inadvertidamente um transe profundo num dos seus doentes, enquanto tentava suscitar a crise de histeria característica dos tratamentos de Mesmer.

Nem Puységur, nem qualquer dos seus contemporâneos da escola de Mesmer chegaram a compreender totalmente o fenómeno que utilizavam. Antes persistiam na crença de que estimulavam de algum modo o “magnetismo animal”, pela primeira vez postulado por Mesmer. Assim, durante várias décadas o hipnotismo foi utilizado não só por médicos, como por entusiastas do oculto, adquirindo durante o processo muita da má reputação de que goza. Um após outro, os primeiros teóricos ofereceram para o fenómeno bizarras explicações que deviam pouco à ciência e bastante à imaginação ou a concepções basicamente erradas. Mesmo James Braid, o médico inglês que reabilitou o mesmerismo na década de 1840, o rebaptizou de hipnotismo (da palavra grega Hypnos, que significa “sono”) e o usou no alívio da dor dos doentes sujeitos a intervenções cirúrgicas, não compreendeu o processo na sua essência.

Só na década de 1930, com o trabalho do psicólogo Clark Hull, o hipnotismo começou a ser objecto de cuidadosa experimentação que merecia. Como Hull salientou em Hypnosis  and Suggestibility, um dos maiores obstáculos à aceitação científica da hipnose fora a sua eficácia a nível prático. Embora a reputação da hipnose sofresse altos e baixos ao longo dos anos, “o motivo dominante em toda a história do hipnotismo foi de natureza clínica, o da cura de doenças humanas. Seria difícil conceber um método menos indicado para a formulação de princípios científicos. A tarefa do médico é efectivar a cura o mais rapidamente possível, usando mais ou menos simultaneamente qualquer um e todos os meios à sua disposição”.

No entanto, como o hipnotismo era complementado por outros métodos de tratamento, foi prestada maior atenção às complexidades do seu modo de actuação. Cinquenta anos de séria experimentação não desvendaram todos os seus mistérios, mas muitos dos mitos e equívocos sobra o hipnotismo têm sido dissipados.

Embora continue a ser comparada ao estado do sono, a hipnose é, na realidade, um estado alterado de consciência no qual há quem caia natural e inconscientemente, por exemplo, durante um sonho vígil. Embora possa ser suscitada de vários modos, a hipnose é mais vulgarmente conseguida através de uma combinação de estímulos visuais e auras que produz um elevado nível de descontracção e concentração.

No estado hipnótico, um indivíduo é capaz de bloquear todas as imagens, recordações, informações e sons quotidianos para se concentrar num objectivo particular com inusitada intensidade. Este processo de triagem pode revelar-se especialmente útil em psicoterapia, permitindo ao doente actualizar imagens cruciais do passado, e em trabalho policial, em que testemunhas incapazes de evocar conscientemente determinados pormenores podem conseguir recordá-los enquanto hipnotizadas.

Está bastante divulgado o uso da hipnose com fins analgésicos. Doentes cancerosos em fase terminal usaram a hipnose para diminuir a sua agonia e reduzir a ansiedade sem medicação e os seus consequentes efeitos colaterais. A hipnoterapia foi utilizada com êxito em doentes sofrendo de artrite, enxaquecas ou depressões, pessoas que comem em excesso, fumadores e mulheres em trabalho de parto.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Hull, C. (1933). Hypnosis and Suggestibility: An Experimental Approach, Appleton-Century-Crofts, New York.

Http://en.wikipedia.org/wiki/James_Braid_(surgeon) (Acedido em 21-05-2011)

Postado por: Ana Paula Sousa

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