quinta-feira, 26 de maio de 2011

EDUCAÇÃO E VALORES HUMANOS

“Educar é um exercício de imortalidade. De alguma forma seguimos vivendo naquele cujos olhares aprenderam a ver o mundo através da magia da nossa palavra. Assim, o professor nunca morre (Moraes; Latorre, 2004, p.72).

Sempre houve uma preocupação em procurar um sistema psicológico de valores, que fosse o mais próximo possível da natureza do homem. Segundo Maslow temos: “A luz de conhecimentos recentemente adquiridos, praticamente todas elas (as teorias) são falsas, inadequadas, incompletas ou, de uma forma ou de outra, deficientes” (Maslow, 1996, p. 181).

A incógnita sobre a origem e a continuidade da bondade humana fizeram com que Maslow procura-se nas novas descobertas nos campos das Ciências e da Psicologia uma explicação adequada.

Existe uma aptidão universal natural em todas as espécies de animais, em seleccionar o mais adequado para satisfazer as suas necessidades tanto físicas como psicológicas. “Parece evidente que todos os organismos são mais auto governados, auto regulados e autónomos do que se pensava à tempos atrás” (Maslow,1996, p. 183).

 Para uma melhor avaliação, Maslow baseou os seus estudos em pessoas sadias, os seus valores e as suas preferências, conforme as suas diversidades culturais. Tais valores são intrínsecos ao ser humano.

Maslow chamou de necessidades básicas do ser humano as necessidades fisiológicas e psicológicas “[...] que devem ser satisfeitas de forma óptima pelo meio ambiente, a fim de evitar a doença e o mal estar subjectivos” (Maslow, 1996, p185). Essas necessidades, baseiam-se na plenitude humana ou tudo o que ela possa vir a ser, segundo alguns autores pode passar pela individualidade, autonomia, auto-realização, integração, saúde psicológica, criatividade, produtividade, tudo o que possa reflectir a realização de potencialidades do ser humano.

Para Maslow, o ser humano vive em busca dessa plenitude e, quando alcança um valor, segue em busca de outro em grau superior, constantemente insatisfeitos, sempre à procura do inalcançável. Porém, o que se verifica é que “o céu [...] aguarda-os ao longo da própria vida” (Maslow, 1996, p186). Apesar de circunstancialmente experienciamos momentos de grande prazer, que, nos dão sustentação para seguirmos em frente.

Maslow (1996) decidiu estudar a personalidade de pessoas bem-sucedidas, com grande capacidade de pensar, escrever, compor, pintar e administrar grandes consórcios. Percebeu que essas pessoas eram muito mais saudáveis, felizes e sábias do que o normal, eram abertas para a vida e criavam o seu próprio destino. Acreditavam nisto, bem como no valor do Self, ao qual recorriam quando enfrentavam algum problema. A solução estava dentro de si mesmo na maioria das vezes.

Eram pessoas, não mais que 1% da população, que “descobriram a conexão psicofisiológica sozinhas” (Chopra,1989, p. 130).

Chopra (1989) compactua com as ideias de Maslow ao dizer que, ao contrário do velho paradigma onde a ciência menosprezava a minoria analisada, mesmo se apenas uma pessoa em dez milhões encontra a cura para o câncer ou para a Sida, devemos tentar compreender que caminho de cura é esse para tentar reproduzi-lo.

Assim fez Maslow, observando indivíduos “saudáveis” e também os indivíduos normais, mas em estado de “experiências culminantes”, e descreveu 10 características do ser humano sadio. Para isso baseou-se em “caracteres objectivamente descritíveis e mensuráveis...”, como fazem os cientistas ao procurar espécimes típicos para um exemplar. Diz ele:

[...] entre as características objectivamente descritíveis e mensuráveis do espécime humano sadio contam-se:

1 – Uma percepção mais clara e mais eficiente da realidade.

2 – Mais abertura à experiência.

3 – Maior integração, totalidade e unidade da pessoa.

4 – Maior espontaneidade, expressividade; pleno funcionamento; vivacidade.

5 – Um eu real; uma firme identidade; autonomia, unicidade.

6 – Maior objectividade e, desprendimento, transcendência do eu.

7 – Recuperação da criatividade.

8 – Capacidade para fundir o concreto com o abstracto.

9 – Estrutura democrática de carácter.

10 – Capacidade de amar, etc. (Maslow, 1969, p 189).

Maslow verificou que “a maioria das pessoas é capaz de individuação”, e, portanto, integrar esses valores ao longo do processo. É essa unidade, essa rede de intercorrelações positivas que se desintegra, se fragmenta em divisões e conflitos quando a pessoa fica psicologicamente doente, que leva o indivíduo aos valores de “recaída”. Procurando ambos os valores em maior ou menor grau, conforme a nossa necessidade, mas estão sempre presentes no comportamento que manifestamos.

Leonardo Boff (2003) explica essa dimensão dualista do ser humano ao nível pessoal através do “simbólico” e “diabólico”. Segundo ele, a dimensão simbólica é feita de amizades, de amores, de solidariedades, de uniões, e de convergências, enquanto que a dimensão diabólica é feita de inimizades, ódios, impiedades, desuniões e divergências.

Portanto, se nos centrarmos na satisfação das nossas necessidades primárias (biológicas) e, nos fixarmos nos aspectos regressivos do comportamento humano, criando dissociações de personalidade, onde o indivíduo pode até cometer crimes num momento de intensa ira, por exemplo. Este facto justifica a preocupação de Boff “com a possibilidade de o ser humano “demens”, a sua dimensão destrutiva se fazer “ecocida” e “geocida”, o que segundo ele poderá levar a eliminar ecossistemas e de acabar com a Terra”(Boff, 2003, p. 19).

Fala-nos também das necessidades secundárias que nos levam à procura da auto-realização, da nossa área afectiva, embora a inquietude do ser humano nos conduza ao “transcendente”, à procura de aspectos mais elevados do ser, procurando o sentido maior da vida que nos remete à espiritualidade com retorno aos valores mais superiores, sem a qual toda a tecnologia e avanços científicos serão em si um grande mal, caso não sejam acompanhados do amor, solidariedade, compaixão, ética e outros valores que caracterizam o ser saudável, (Maslow 1996).

Baseando-se nos estudos de Maslow, Chopra,  diz: “Quando a sociedade se elevar ao nível das melhores pessoas que já produzem, a saúde perfeita tornar-se-á uma realidade” (2002, p. 130). Para Chopra, o “ser saudável” é aquele que identifica os seus talentos únicos e pode expressá-los com todo o seu potencial criativo, que além de trazer felicidade, satisfação e realização, acaba fortalecendo o seu sistema imunológico.

Deepak Chopra, fundamentou as suas ideias a partir das antigas tradições orientais de sabedoria, pelas novas descobertas científicas e pela sua experiência pessoal e profissional. Como médico refere o exercício regular e uma alimentação equilibrada, estratégias para se melhorar a saúde circulatória e ainda contribuir para a diminuição da pressão sanguínea.

Chopra (1989) chama-nos a atenção para o sistema “mente-corpo”, para a influência que os nossos pensamentos exercem sobre o nosso corpo. A ciência hoje diz-nos que “cascatas neuronais”, derramamento de substâncias químicas no cérebro em resposta aos estímulos do meio, os neurotransmissores, interferem directamente no nosso corpo físico como uma rede de informações que não se limitam a mandar impulsos em linhas rectas pelos axónios, mas, circulam. “[...] inteligência livre através de todo o espaço interior do corpo” (Chopra, 1989, p. 81).

Maslow, apesar da sua natureza optimista, também se considerava realista e o facto de o ser humano na sua grande parte não realizar o seu pleno potencial de vida e do que se interporia para que isso não se concretizasse, preocupava-o.

Em 1996 Maslow oferece uma resposta profissional e fascinante com um artigo no seu livro “Visões do Futuro”, apresentando à comunidade científica da época “O complexo de Jonas”, inspirado num personagem bíblico do antigo testamento.

Jonas foi chamado por Deus para exercer o dom da profecia, ou seja, pregar a palavra divina, mas teve medo de fazê-lo. Tentou fugir, mas não havia como se esconder da sua tarefa. No final, percebendo que teria que aceitar o seu destino teve que realizar o que tinha sido chamado a fazer. “Vá pregar a palavra d’Aquele que É ao povo de Nínive”. O povo de Nínive, escutando as palavras de Jonas, começou a jejuar, vestiram-se “todos” com sacos e nesse dia, ficaram todos iguais, não havia ricos nem pobres.

Assim como Jonas, todos nós temos uma missão, cada vez que nos afastamos deste chamado interior, provocamos reacções neuróticas, psicossomáticas de todos os géneros e em vez de avançarmos para a auto-realização, ficamos perdidos e paralisados no meio do caminho.”


Postado por: Delfina Correia

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